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Depois de mortas
De novo de frente para as coisas, o fotógrafo apronta-se. Verifica os instrumentos, a luz, o deslizar lento da nuvem. Olha as coisas à frente da máquina, todo lançado para o disparo fatal, definitivo, e – zero. As coisas de repente esvaziadas, sem nada, não lhe devolvem nada. As coisas todas iguais, zeradas, desúnicas. Tudo sem substância. Tudo vazio. Das coisas, só os nomes – cara, casa, árvore, nave espacial –, e os nomes não são fotografáveis. É o fim (por assim dizer). Perante a evidência, o fotógrafo não pode fazer o que quer que seja. Mete a tecnologia no saco, regressa a casa cabisbaixo. E correm muitas nuvens no céu, e o anónimo nada repete-se muitas vezes, vários dias, tempo demais. Até que, quase sem consciência dos próprios gestos, o homem recomeça. Com seus cálculos e instrumentos, de máquina na mão, decide matar as coisas. Retirá-las dos lugares e nomes, entrar nelas, matá-las. Mas não é o fim (por assim dizer). Depois de mortas é que as coisas serão as coisas.
Facing things once again, the photographer gets ready. He checks the instruments, the light, the slow sliding of the cloud. He looks at things in front of the camera, throwing himself towards the fatal, final click, and – zero. Suddenly, things are emptied out, they don’t give him back anything anymore. Suddenly, all things are the same, zeroed, un-unique. Everything matterless. Everything empty. From things, only names remain – face, house, tree, spaceship – and names are not photographable. It’s the end (so to speak). In face of this evidence, the photographer can’t do anything really. He packs all the technology, returns home oh so sad. And clouds keep crossing the sky, and the anonymous nothing repeats itself over and over again, for several days, for too long. Until, almost with no conscience of his own gestures, he decides to kill things. To remove them from their places and names, to enter them, to kill them. But it’s not the end (so to speak). Only once after they’re dead, will things be things.
Jacinto Lucas Pires