De novo de frente para as coisas, o fotógrafo apronta-se. Verifica os instrumentos, a luz, o deslizar lento da nuvem. Olha as coisas à frente da máquina, todo lançado para o disparo fatal, definitivo, e – zero. As coisas de repente esvaziadas, sem nada, não lhe devolvem nada. As coisas todas iguais, zeradas, desúnicas. Tudo sem substância. Tudo vazio. Das coisas, só os nomes – cara, casa, árvore, nave espacial -, e os nomes não são fotografáveis. É o fim (por assim dizer). Perante a evidência, o fotógrafo não pode fazer o que quer que seja. Mete a tecnologia no saco, regressa a casa cabisbaixo. E correm muitas nuvens no céu, e o anónimo nada repete-se muitas vezes, vários dias, tempo demais. Até que, quase sem consciência dos próprios gestos, o homem recomeça. Com seus cálculos e instrumentos, de máquina na mão, decide matar as coisas. Retirá-las dos lugares e nomes, entrar nelas, matá-las. Mas não é o fim (por assim dizer). Depois de mortas é que as coisas serão as coisas.
Jacinto Lucas Pires
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